sábado, 13 de julho de 2019

A SEIVA TRUPE ESTÁ DE VOLTA

Newsletter | Julho

Se alguém imaginou que a Seiva deixara de correr nas artérias do Porto, enganou-se!
Após um período conturbado pela inexistência de financiamento da DGArtes e após a ‘salvação’ que a Ministra da Cultura Graça Fonseca permitiu através de um apoio do Fundo de Fomento Cultural, a Seiva Trupe-Teatro Vivo lança-se de mangas arregaçadas para iniciar a temporada 19/20 em pleno. E começa, no próprio dia em que faz 46 anos O FUNERAL DE NERUDA (25 de Setembro), com o mesmo título na ante-estreia do texto de Luis Sepúlveda e Renzo Sicco, com encenação deste último.
Trata-se de uma coprodução com a companhia italiana Assemblea Teatro e os ensaios já tiveram lugar na sua primeira fase. E de Itália chegam os primeiros ecos.
Júlio Cardoso – que convidou Castro Guedes para dar continuidade ao projecto, assumindo, desde Abril, a Direcção Artística – regressa a palco interpretando a figura histórica e mítica do grande poeta chileno. Acompanham-no Clara Nogueira, Filomena Gigante, Joana Teixeira, Rui Spranger; e o barítono italiano Maurizio Leone.


E aí está de novo a Seiva: agora e sempre!



quinta-feira, 4 de julho de 2019

J`ACCUSE!... - Emílio Zola

Recordo a atitude de Zola, em contraste com a passividade dos nossos  pensadores e da própria sociedade civil, em presença do amontoado de mentiras que incendeiam e asfixiam a nossa existência.  
J´ACCUSE!...
É bem conhecida a carta que Emílio Zola escreveu ao Presidente da Republica de França, publicada no Aurore a 13 de Janeiro de 1898 e que este jornal titulou: (J´ACUSE!...)

Zola acusa cinco generais, as repartições de guerra e o 1º. Conselho de guerra de apoiarem e serem cúmplices de monstruosas maquinações, urdidas por militares que culminaram na condenação a prisão perpétua de um inocente, o capitão Dreyfus.

Só um espírito livre, dependendo unicamente da sua consciência, prestaria semelhante serviço à verdade, à justiça e à Pátria. 
Zola sabia que do ataque desferido às mais altas patentes militares, repartições de guerra e conselho de guerra resultaria uma acusação, julgamento e condenação.

Assim foi. Limitou-se a pedir: -«Que o processo se realize à luz do dia».

Desde logo foi desencadeada uma campanha de ódio contra Zola. Era urgente acusar, julgar, condenar e prender Zola. No mês seguinte à publicação da carta já decorria o seu julgamento. Tinha de ser rápido e impedir Zola de se defender no que o próprio governo de França colaborou.

As arbitrariedades de todo este processo revelaram, desde logo, a supremacia das forças armadas em questões de ordem politica o que conduziu à criação da Liga dos Direitos do Homem, mais tarde integrada na Federação Internacional de Direitos Humanos.

Zola foi condenado no 1º. Julgamento. No exílio, em Londres, viu confirmada e agravada a sua condenação num 2º. Julgamento.

Entretanto, foi descoberto o falsificador que levou à condenação de Dreyfus. Confessou o crime.

Contra tudo o que seria de esperar,  «O 2º. Julgamento de Dreyfus foi ainda mais monstruoso que o 1º……….. os militares que novamente o condenaram não poderiam ter nenhuma desculpa».

Entre 1906 e 1909, por ação de um novo Governo e de um novo Presidente da Republica, Dreyfus foi, finalmente, reabilitado e reintegrado no exército.
  
Zola faleceu em 1902, não chegou a saborear o resultado final da sua luta.

Em 1908 a Camara decidiu: «Em merecido preito aos méritos do escritor, mas também como reparação póstuma ao que fora condenado como difamador, quando na realidade se batia pela justiça, foi resolvido transladar as cinzas de Zola para o Panteão».

Zola não conhecia Dreyfus, posto ao corrente da sua inocência isso lhe bastou para enfrentar tudo e todos, com sacrifício e grande sofrimento, em defesa da solidariedade, da verdade, da justiça e da própria França.

Numa carta escrita à esposa de Dreyfus Zola refere: «O inocente condenado duas vezes, fez mais pela fraternidade dos povos, pela ideia de solidariedade de justiça, que cem anos de discussões filosóficas, de teorias humanitárias» e acrescenta: «Somos nós, os poetas que pregamos os culpados ao eterno pelourinho».

Decorreu mais de um século. Bem gostaria ver assim confirmado o ideal de Zola e que o seu grito de revolta atingisse as gerações seguintes de escritores e cada um de nós.

Entretanto, os gritos de revolta que me chegam é dos pais que perderam os filhos, na flor da vida, em praxes académicas e em exercícios militares, com julgamentos que nada esclareceram, ficando sempre tudo na mesma.

É das mulheres vitimas de criminosos "absolvidos" em tribunal com penas suspensas.

É das famílias que perderam os seus empregos, as suas casas e foram jogadas para a miséria, vitimas daqueles, bem pagos para administrar e governar, o que melhor fizeram  foi saquear as empresas, destruir famílias e afundar o pais.

E não se vislumbra o fim do calvário de uma população injustiçada.

O exemplo de Zola que desce à praça pública em defesa de um inocente, da Verdade, da Justiça e da Dignidade das Instituições é atual, não pode ser esquecido, constitui uma referência.

Decorreu mais de um século, muito embora as situações do presente  não configurem o caso Dreyfus, representam uma falta de referências e de valores a todos os níveis, uma ausência do sentido do humano, de solidariedade, de fraternidade e de uma passividade inqualificáveis.

É responsabilidade de todos nós denunciar os caluniadores, obriga-los a responderem pela falcidade dos seus atos. Responsabilidade maior ainda dos intelectuais e criadores em seguirem o exemplo de Zola, sair da zona de conforto e, sem temor, gritar bem alto a verdade e responsabilizar a justiça. 
Só assim contribuiremos para um Mundo Melhor.


segunda-feira, 27 de maio de 2019

O FIO DA NAVALHA


«É difícil percorrer o fio de uma navalha, tão penoso, dizem os sábios, como o caminho da Salvação» KATA UPANISHAD

Este pensamento inspirou Semerset Maugham para o titulo do seu livro «O fio da Navalha», obra também inspiradora.
As personagens principais são norte-americanas, famílias abastadas, com elevados níveis de vida, dedicam-se a multiplicar a riqueza com ostentação, cultivando o TER.
Ao contrário, o protagonista desvaloriza a riqueza, procura o conhecimento e privilegia o SER. 
Com parcos recursos dispôs-se a vadiar. Deixa para trás os amigos ricos, a namorada e parte para Paris, Grécia e finalmente para a India em busca da contemplação, da experiência mística da verdade espiritual ao encontro de Deus.
Um ser humano autêntico empenhado em dar um significado á sua vida e na construção do seu destino.
Mesmo nos casos em que o autor conviveu com os seus personagens não fugimos á tentação de saltar dos livros para a vida real.
Tive o privilégio de conviver de perto com um homem do campo, agricultor, que mal sabia ler e escrever. Cresceu com a própria natureza e assim ajudou a crescer um manancial de filhos.
Encontrava-o, por vezes, com uma navalha aberta no bolso de cima do casaco ou da camisa. Causava-me impressão a proximidade da ponta da navalha com o pescoço, mesmo na direção da carótida e manifestava-lhe toda a minha apreensão em face de uma queda… 
O risco que corria não o perturbava, não lhe roubava a serenidade nem a boa disposição.
Foi na terra onde nasceu e morreu que cultivou o SER. 
Não precisou de graus académicos para transmitir a riqueza da sua autenticidade, da sua sinceridade e da sua verdade. Encheu o seu lar com o seu coração, com amor. Numa dimensão divina, converteu a sua casa num templo. 
Aprendi com ele o que mais agrada a Deus.

E também a lançar um foguete numa das Festa da aldeia, coisa que nunca nos dias da minha vida julguei possível, quer pelos perigos que sempre me incutiram, quer pelo terror do mesmo me poder explodir nas mãos.
Ninguém como ele me inspiraria confiança para levar a cabo tal proeza.


sábado, 11 de maio de 2019

BRUXAS E FEITICEIROS


Fico perplexo ao ver uma classe de profissionais com formação superior, prestigiada e dedicada aos seus alunos, capturada pelas artes mágicas dos seus sindicalistas.

O ensino deixou de estar centrado no aluno para ser contaminado por contínuos protestos: a recusa das avaliações, as carreiras, a falta de professores e de formação, a guerra dos 9 anos, as aberrações do governo do Partido Socialista como o fabrico de centenas de milhar de computadores «Magalhães» que os professores nem queriam ver nas escolas pois não lhes foi dada a competente a formação para ensinar.  Resultado, sem uso acabaram no lixo. 

Nunca imaginei ver os professores arrastados ao longo dos anos, pelos sortilégios de colegas sindicalistas, formados nos colégios “sacerdotais” dos partidos onde estão matriculados.

O Partido Comunista nunca ganhou nas urnas a confiança dos eleitores para governar. Como não é um Partido democrático procura na rua a força que não obtém no voto. 
Para o conseguir instrumentalizou a CGTP-IN com a qual, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, conseguiu paralisar o país com greves gerais. 
Perdeu poder com a UGT e credibilidade com a subordinação ao PCP. 
Ultimamente limita-se a agitar o Sector Público, com um certo histerismo na medida em que assiste ao despontar de novos Sindicatos Independentes, tanto no público como no privado, com novas formas de luta. 
Estes movimentos não encontram soluções na acção dos sindicatos tradicionais que começam por ezacerbar os ânimos e a acabam por desacreditar as reivindicações e os associados. 
É o caso da guerra dos 9 anos, 4 meses e 2 dias!




  

segunda-feira, 30 de julho de 2018

AFINAL QUEM ESPECULA???

VAMOS LÁ TIRAR DÚVIDAS

Acabo de ouvir o comentário de Marques Mendes na SIC que me dá uma ajuda.

Questionado sobre o caso de Ricardo Robles começa por afirmar que «não cometeu nenhuma ilegalidade», terminando por compara-lo a Ricardo Salgado.

A verdade é que até ao momento ninguém apontou qualquer irregularidade a Ricardo Robles e o seu caso dentro de 10 dias deixará de ser notícia.

Quanto a Ricardo Salgado e a irregularidades, só conheço o próprio a fazer tal afirmação e o seu caso continuará a ser falado por mais 10 anos.

Se dúvidas pudesse ter quanto aos «verdadeiros especuladores» fiquei por demais esclarecido, melhor, estarrecido.




domingo, 29 de julho de 2018

AFINAL QUEM É QUE ESPECULA???


Os verdadeiros especuladores


A compra de um prédio em Alfama, a recuperação, a colocação e a retirada do mesmo da venda, foram objeto de notícias continuas e destacadas nas televisões, com honras de 1ªs. páginas nos jornais ao longo de toda a semana que passou.

Motivo?  O investidor creio ser dirigente do Bloco de Esquerda!

Um sem número de comentadores - sempre à espreita de uma oportunidade para exacerbar ânimos e formatar opiniões - acusam o jovem investidor de adotar uma prática especulativa contrária ao seu discurso politico.

Acontece que os verdadeiros especuladores foram as televisões e os jornais que não vislumbraram acontecimento mais importante que o citado negócio e colocaram em campo um batalhão de comentadores.

A construção de um discurso ideológico que omitiu e menosprezou uma série de factos distorceu por completo todo o processo.

Vejamos:
  • ·      A compra teve lugar em 2014, ano de muita oferta de imóveis e pouca procura. Um ligeiro pormenor, um café num terraço na baixa custava, então, 0,60 cent., hoje cobram 2,5€;
  • ·      O processo negocial foi desenvolvido com os inquilinos de forma exemplar;
  • ·      A renda mensal de 170€ para o inquilino que optou não sair excedeu todas as expectativas.

Atrevo-me a dizer que os comentadores prestariam um melhor serviço á sociedade se lhe seguissem o exemplo.

Sou contra ideologias, nunca votei no Bloco de Esquerda, nem penso votar, o que não me impede de manifestar o meu apreço á forma corajosa como Catarina Martins defendeu o seu camarada dos ataques de "imaculados" defensores da uma moral indesejável.

sábado, 9 de junho de 2018

FÉRIAS NA COSTA DA CAPARICA


O seu apartamento de Férias no centro da Costa da Caparica a dois passos da praia, a 15Km. de Lisboa, ao encontro de 16Km. de praias com areias finas e douradas banhadas pelo Atlantico Quer seja verão ou inverno o Sol da Caparica, as praias, o fosforo, o iodo, o seu imenso paredão com todo o tipo de apoios, o comboio de carruagens abertas que percorre entre as dunas 10 Km, de praia, a animação rivalizam com Algarve e com todo o sul de Espanha. 
https://www.airbnb.pt/rooms/24953827?location=Costa%20da%20Caparica&adults=4&children=3&home_collection=1&s=_pKOjL4E&guests=7

domingo, 20 de maio de 2018

Não Afrontem - REFERENDEM


Creio que os partidos não colocaram a Eutanásia nos seus programas eleitorais, pelo que a Assembleia da República não tem credibilidade para decidir sobre esta matéria.
Os mentores da iniciativa nada sabem sobre a vida, menos ainda sobre a morte, nunca a viram.
Fingem ignorar casos da vida real.

Recentemente foi noticiado a situação de um jovem que acordou na véspera de ser executado, ver: http://a.msn.com/01/pt-pt/AAwTWJd?ocid=se.


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terça-feira, 10 de abril de 2018

EUTANÁSIA - Sentença de Morte


Prós e Contras - 09.04.18
Eutanásia - Chegou a altura da decisão

Cada dia fico mais perplexo com as leis aprovadas e mesmo com as que preparam para a Assembleia da República.

Com uma postura "angelical" preparam uma lei que me condenaria à morte caso estivesse em vigor à data em que um colégio de especialistas concluiu nada poderem fazer para me salvar.

Uma tuberculose galopante obrigou-me a internamento  no Sanatório Rodrigues Semide no Porto.

Lúcido, senti a morte apoderar-se de todo o meu ser perdendo gradualmente toda a ação, entrando em coma.

Sem qualquer reação aos tratamentos meu pai (médico) e o especialista que me assistia convocaram um reconhecido tisiologista a fim de analisarem toda a situação. 

Concluíram que tudo tinha sido feito e que nada mais havia a fazer para me salvar.

Então, os especialistas sugeriram ao meu pai que melhor seria levar-me para casa, onde teria uma morte mais descansada. 
Meu pai limitou-se a responder: 
- Morte descansada tem ele aqui, se o tiro da cama e o ponho numa maca mato-o.

Ali fiquei, com soro, transfusão de sangue e oxigénio.
Acharam melhor suspender toda a restante medicação que só me poderia dar sofrimento.
Inexplicavelmente, decorridos alguns dias, comecei a dar sinais de vida. Um mês depois já andava… mais um ano para uma vida quase normal. 
 A partir dai tive seis filhos e dezasseis neto, vou a caminho dos 80, todos de boa saúde.

Os pormenores podem ser lidos em: 

https://pugadassis.blogspot.pt/2017/06/memorias-de-um-sobrevivente-casos-da.html

Com outro acompanhamento, médico e familiar, a lei que a todo custo pretendem ver aprovada tinha-me condenado a uma morte real, impedindo as gerações presentes e futuras de ver a luz do dia.
O facto de nenhum partido político abordar nos seus programas eleitorais este assunto, tão importante e delicado, não dando ao cidadão hipótese de escolha, o descrédito de  tantas Leis da Assembleia da República, espelha bem o processo traiçoeiro da iniciativa.
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Vem a propósito uma entrevista ao Semanário Sol, da semana passada, do Dr. João Queiroz de Melo - Prémio Nacional de Saúde, Cirurgião que chefiou o 1º. transplante Cardíaco nos nossos Hospitais em que refere:
«……. houve alguns casos de pessoas com fé que sobreviveram e não consigo perceber como. Há um caso ……. Inacreditável. Foi uma pessoa que deu provas de fé e que estava condenada face ao conhecimento médico e hoje está viva.»

domingo, 18 de junho de 2017

MEMÓRIAS DE UM SOBREVIVENTE - O amanhecer de um novo dia - IV - casos da vida real vividos



Pintura de fotos 
Engª.Virginia Moura e Arqº.Lobão Vital

IV
O AMANHECER DE UM NOVO DIA
Acordou sereno, com menos dores, a luz da manhã a querer romper-lhe as pálpebras, a querer mover-se, com vontade de falar com a Mãe, sempre ali ao seu lado, de a animar, dizer-lhe que tinha descansado!
Sempre que o médico entrava pressentia-o aos pés da cama.
Naquela manhã divisava-lhe vagamente os contornos em contraluz. A luminosidade da janela, mesmo à sua frente, embora atenuada por uma frondosa árvore, continuava a impedi-lo de abrir os olhos
Sentiu necessidade de chamar o médico. Lá conseguiu esboçar um pequeno aceno com o dedo indicador.
Não queria acreditar no que se estava a passar. Era a silhueta do médico, o movimento do dedo indicador, a vontade imensa de falar, de saber o que lhe tinham dado para finalmente descansar.
Teve de insistir no chamamento, o médico acabou por reparar, venceu uma certa resistência e lá se aproximou:
Também o médico estava cada vez mais perplexo:
-Então o que é que te deu? Sabes que esta noite, não deixaste ninguém descansar nesta casa?
O Luis ouviu incrédulo. Não era possível! Dormira tão bem!  
Só não conseguia articular uma palavra.
O médico apercebeu-se da dificuldade e continuou, para lhe dar tempo:
-Arrancaste todos os tubos, querias levantar-te, ir embora, foi um pavor, ninguém te conseguia segurar, ninguém teve descanso.
A Mãe, ali sentada, só dizia:
-Assustaste-nos tanto, filho.
Nunca tivera uma noite assim!
A excitação, a violência e o completo descontrolo do Zito representaram para ela a agonia de um moribundo.
Quando finalmente se imobilizou, foi o estertor final, o exalar do último suspiro.
Também nunca tivera uma manhã tão inesperada!
Ali estava o Zito a reconhecer tudo á sua volta, a mover-se e a querer falar. Não lhe escapou a alegria dos companheiros de doença que invadiram a janela do quarto e não escondiam a surpresa em contemplar um “ressuscitado”!
O Luís passara a noite suspenso na linha que o separa da eternidade; interrompeu no limite uma viagem sem regresso.
Sentia agora o ar invadir-lhe os pulmões e dilatar-lhe o peito, começava a respirar o ar que Deus lhe deu, á mistura com o tubo de oxigénio.
Retomou a fala. A muito custo colocou a sua pergunta ao médico:
-O que me deram para descansar?
O médico atónito:
-Descansar?! Já te disse que aqui ninguém descansou, nem mesmo tu!
Recomeçou a viver.
Já podia voltar-se e deitar-se de lado, as chagas das costas e das nádegas passaram a dar-lhe mais sossego.
Participava nas conversas com os pais, o irmão, com os companheiros de doença e com os amigos que o visitavam.
Todos lhe faziam a melhor companhia.
À refeição nada lhe despertava mais o apetite que um bom copo de vinho branco.
Ganhara novos amigos:
Destacava-se  o Arqº. Lobão Vital, internado sobe prisão e vigiado pela PIDE, foi das melhores companhias e deixou-lhe a melhor recordação. 
De uma serenidade que transmitia paz, uma cultura superior que muito me ajudou nas opções de leitura, um firme defensor dos " Direitos do Homem"  e dotado do mais elevado sentido do humano.
O Luís logo que começou a levantar-se e a fazer pequenos percursos passou a visitar os companheiros acamados.
Entre eles destacava-se o Bélinho que há anos sofria de artrite crónica incurável encontrando-se numa situação de dependência total.
Era ainda jovem. Impressionava muito ver que as suas pernas e os seus braços mais pareciam raízes de oliveira de tão retorcidos, agarrados a um tronco bem constituído.
O sofrimento dominava aquele homem noite e dia. Apesar disso, mantinha um sorriso permanente, enigmático, sofredor, assim como a ironia duma revolta incontida.
Ao entrar naquele quarto não sabia que dizer. Tudo lhe soava a ridículo: «Está bom?»; «Está melhor?»; «Como vai isso?».
Nada fazia sentido, até porque o Bélinho desejava a morte.
 Optou por uma vaga saudação:
-VIVA!
Não para o contrariar na sua vontade…também não faria sentido desejar-lhe o contrário…
Agora entendia melhor a dificuldade de muitas das visitas que recebia e que ali ficavam, a olhar sem saberem que dizer.
Mas o Bélinho era muito diferente de tudo que conhecia.  Contava anedotas picantes e gostava ainda mais de as ouvir. Perdia-se com a retórica do Amadeu que sem dó nem piedade fazia humor da sua enfermidade, das deformações dos braços e das pernas. O Bélinho ria desalmadamente, de forma desesperada, ao ponto de ficar todo encarnado, com os olhos esbugalhados, chorava de tanto rir, babava-se, excitado dizia tudo quanto lhe vinha á cabeça… um bando de palavrões.
Quando finalmente se acalmava precisava que lhe limpassem as lágrimas e a baba e o suor.
O Amadeu também se encontrava ali internado. Era um jovem genial. Revelou-se como: radialista, autor, compositor, declamador e ator.
Amigo pessoal do mestre António Pedro fundou com ele o Teatro Experimental do Porto, foi o seu braço direito, ajudou muitos atores, empurrando-os para o palco e cantores, escrevendo-lhes as letras das canções.
A única coisa que o Bélinho ainda conseguia fazer, a muito custo e com sacrifício, era fumar um cigarro. A palma da mão, dobrada de tal forma para baixo, quase encostava ao braço e os dedos retorcidos no sentido das costas da mão lá fixavam, com grande dificuldade, o cigarro.
Não conseguia evitar que a cinza caísse no peito, queimava-o mas não reagia. Era uma dor menor relativamente ao tormento que nenhum analgésico atenuava.
Para o Luís sobreviver foi a magia de um novo amanhecer, o encanto da descoberta do chilrear dos passarinhos, da beleza dum malmequer, saborear um pão de trigo, acabado de cozer e recheado de mel; adivinhar o que causa alegria aos que nos rodeiam e evitar o que os entristeça; cumprimentar quem passa e fazer desse mesmo “o próximo”, sem sentimentalismos, quer dizer, não permitir que o nosso amor ao próximo se esvazie ao menor receio… ou ao adivinhar interesses pessoais ameaçados.
Nunca entendeu como podia alguém desejar a morte? Talvez porque nunca experimentou o sofrimento e a falta de esperança do Bélinho.
Outra coisa será viver com espírito fraterno, optar pelo caminho que mais agrada a Jesus, como forma de estar preparado para, a qualquer instante, partir rumo à eternidade. Será esse o caminho da felicidade?
O seu médico assistente, o especialista convidado bem como o pai do Luís nunca entenderam a sua recuperação. Também não o consideravam livre de perigo.
O descanso após as refeições passou a ser feito numa espaçosa e aprazível varanda refastelado numa cómoda espreguiçadeira, onde dava cor a fotografias a preto e branco.
Os exames radiológico continuavam a revelar sérios problemas nos brônquios e pulmões. Tudo apontava para a necessidade de intervenção cirúrgica. Consistia a mesma em remover duas a três costelas numa primeira fase e depois desta intervenção se encontrar consolidada, haveria que remover mais duas ou três costelas para que o pulmão ficasse devidamente acomodado.
Disto resultaria um ombro mais alto que o outro.
O médico assistente deu-lhe conta de toda a situação. 
A resposta do Luís não se fez esperar:
- Quanto mais depressa for operado melhor.
Hesitante estava o médico. O rapaz era muito novo para ficar assim deformado e decidiu:
- Vamos esperar um mês e no final avalia-mos de novo a situação.
Decorrido o mês a recuperação foi de tal forma que dispensou qualquer intervenção cirúrgica.
Para espanto de todos o Luís começou a fazer uma vida praticamente normal .
Na sua terra natal já tinham mandado rezar uma missa pela sua alma!
Não queriam acreditar que o Zito estava vivo.


Vivo! só por milagre!






quarta-feira, 14 de junho de 2017

MEMÓRIAS DE UM SOBREVIVENTE - A hora da Verdade - III- casos da vida real vividos


III
A HORA DA VERDADE
Tiveram o bom senso de manter todos os tubos ligados.
O sofrimento da Mãe ali sentada, dia e noite, ao lado da cama, sem dormir, sem parar de chorar, não conhecia limites.
Era o seu verdadeiro amparo, o seu anjo da guarda em carne e osso, transmitia-lhe paz, facilitava-lhe o pensamento, mantinha-o vivo.
«Tu não podes emocionar-te, se desatas a chorar, como os outros, apagas-te como um passarinho».
«Pensa bem. O especialista que concluiu pela tua morte ignora que tenhas ouvido tal sentença, de contrário não a teria proferido em voz alta».
«Todos ignoram que tu ouves, escutas e pensas. Estão todos se enganados».
«É Deus que está contigo e não vai abandonar-te».
«Deixa de ser incrédulo».
«Foi preciso ouvires a tua sentença de morte para despertares e para a pensares em Deus».
«Aprende, acredita e esforça-te para teres fé. O que tens a perder?
Só tens a ganhar se fores ao encontro daquilo que agrada a Jesus».
«Afinal, o que consideras como o pior que te aconteceu poderá reverter na melhor experiência da tua existência».
«Sempre te intrigou a resposta de Gandi, quando lhe perguntaram: O que é a verdade?
- A verdade é Deus, respondeu.
Ora se Deus é a verdade e a vida tens de começar por varrer do coração a mentira e também a animosidade para com os outros, os julgamentos e as condenações antecipadas que te atreves a proferir, a vaidade, a arrogância, a indiferença…todo o lixo em que tens vindo a tropeçar.
«Assim tenhas oportunidade para fazer uma tal limpeza que te facilite um novo olhar para o mundo e para o próximo, um novo ar para respirar».
« Cultiva uma nova dimensão espiritual. Empenha-te, trabalha e esforça-te como se tudo dependa de ti e confia como se tudo dependa da misericórdia de Deus e do seu perdão».
«Chegou também a hora de dares ouvidos á tua Mãe. Foi ela quem te disse:
- Quem rezar 1.000 “Santa Maria”, obtém a graça pedida.
Não tens outra saída. Tens de seguir em frente…acreditar e conseguir».
«Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte…»
«Pela primeira vez achava a oração curta, bonita e muito apropriada para o momento: …agora e na hora…  
Havia que deitar mãos à obra. Como controlar até mil?
Contar as dezenas pelos dedos das mãos e fixar cada dezena num dedo. Ao atingir o último dedo das mãos passar a centena para um dedo do pé e assim sucessivamente até atingir o último dedo dos pés, correspondente ao milhar.
……………………….
Terminou com a convicção de não ter errado uma única Santa Maria e também com o peso de só se lembrar de "Santa Barbara quando troveja".
Estava muito cansado, perdeu todas as energias, sentiu-se exausto.
Adormeceu profundamente.




A seguir:
IV

O AMANHECER DE UM NOVO DIA