segunda-feira, 27 de maio de 2019

O FIO DA NAVALHA


«É difícil percorrer o fio de uma navalha, tão penoso, dizem os sábios, como o caminho da Salvação» KATA UPANISHAD

Este pensamento inspirou Semerset Maugham para o titulo do seu livro «O fio da Navalha», obra também inspiradora.
As personagens principais são norte-americanas, famílias abastadas, com elevados níveis de vida, dedicam-se a multiplicar a riqueza com ostentação, cultivando o TER.
Ao contrário, o protagonista desvaloriza a riqueza, procura o conhecimento e privilegia o SER. 
Com parcos recursos dispôs-se a vadiar. Deixa para trás os amigos ricos, a namorada e parte para Paris, Grécia e finalmente para a India em busca da contemplação, da experiência mística da verdade espiritual ao encontro de Deus.
Um ser humano autêntico empenhado em dar um significado á sua vida e na construção do seu destino.
Mesmo nos casos em que o autor conviveu com os seus personagens não fugimos á tentação de saltar dos livros para a vida real.
Tive o privilégio de conviver de perto com um homem do campo, agricultor, que mal sabia ler e escrever. Cresceu com a própria natureza e assim ajudou a crescer um manancial de filhos.
Encontrava-o, por vezes, com uma navalha aberta no bolso de cima do casaco ou da camisa. Causava-me impressão a proximidade da ponta da navalha com o pescoço, mesmo na direção da carótida e manifestava-lhe toda a minha apreensão em face de uma queda… 
O risco que corria não o perturbava, não lhe roubava a serenidade nem a boa disposição.
Foi na terra onde nasceu e morreu que cultivou o SER. 
Não precisou de graus académicos para transmitir a riqueza da sua autenticidade, da sua sinceridade e da sua verdade. Encheu o seu lar com o seu coração, com amor. Numa dimensão divina, converteu a sua casa num templo. 
Aprendi com ele o que mais agrada a Deus.

E também a lançar um foguete numa das Festa da aldeia, coisa que nunca nos dias da minha vida julguei possível, quer pelos perigos que sempre me incutiram, quer pelo terror do mesmo me poder explodir nas mãos.
Ninguém como ele me inspiraria confiança para levar a cabo tal proeza.