Em maio de 2020 prestei aqui
Homenagem a Belarmino Augusto Cordeiro, até hoje, durante mais de 30 anos, o
único médico residente em de Vilarinho da Castanheiro.
Quando os Ventos do Nordeste
Transmontano o empurraram para a cidade, nada ficou como dantes naquela terra.
[Um apagão de alguns anos no
computador abrangeu esta publicação de 2016 o que me levou a tornar a publicar
em 2020].
https://pugadassis.blogspot.com/2020/05/medico-residente-em-vilarinho.html#comment-form
Recebi de Rui Alves em
28/05/2016 [Um desconhecido] o comentário: «Nunca seriamos o que somos se não
tivéssemos um passado e o seu foi enriquecedor».
Vilarinho da Castanheira,
situado no Nordeste Transmontano, a uma altitude média de 576 metros é a terra
onde nasci em Dezembro de 1938.
Conhecida por "terra
fria" pelo rigor do frio causado pelos nevões que deixavam as casas quase
soterradas pela neve. Como os tetos das cozinhas não tinham proteção a neve
infiltrava-se por entre as telhas e molhava o chão geralmente em pedra.
Com os caminhos cobertos de
neve, na ida e no regresso das aulas, enterrava-mos as pernas por completo na
neve.
Na escola não havia
aquecimento, as mãos gelavam com tanto frio.
No recreio, para aquecer,
lutávamos e brincávamos com a neve, quer a fazer bolas gigantes, quer a atirar
com bolas uns aos outros, Assim, ficava-mos com as mãos a "ferver".
Quando chovia em cima da
neve o solo congelava, o codo deixava os caminhos intransitáveis. Nas
inclinações não conseguíamos manter-nos de pé e os animais caíam e deslizavam a
toda a velocidade só parando com grande alarido quando esbarravam contra uma
parede.
A povoação ficava
prisioneira do gelo e da neve, com as casas quase soterradas e os caminhos com
os solos congelados.
Por outro lado este clima
favorecia o fumeiro das carnes de porco: presunto, alheiras, salpicões, paios,
linguiças e outros enchidos,assim preparado para o consumo. Graças ao frio
extremo, o fumeiro ficava com um aroma e paladar inigualável.
Também é inesquecível a
beleza do manto branco da paisagem, o brilho do gelo pendente dos beirais dos
telhados da água que congelava no ar antes de cair no chão, semelhantes a
estalactites, com o brilho do puro cristal.
A juntar a tudo isto,
observar o voo das aves de grande porte, gavião, águia e bufo real, que
deixaram de ser vistas há longos anos; encarar de frente, olhos nos olhos, um
lobo esfomeado; os pastores enfrentam-nos, sabiam que o lobo é um animal
cobarde foge quando acossado pelos cães de guarda ao rebanho e só ataca o gado.
O homem sim, é o lobo do próprio homem.
Tudo quanto precede
fortalece a alma do transmontano, são dádivas do céu para toda a vida.
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Nota: Vou retomar este tema muito em breve. L.C.
Boas recordações.
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