terça-feira, 4 de outubro de 2022

“Bairro Noite e Dia..." já no próximo dia 7. Assista!



 




A Seiva Trupe apresenta de 7 a 31 de Outubro a Peça “Bairro Noite e Dia, ou de como Maria José ser Boa Alma não podia”.

Com autoria de Jorge Castro Guedes, que se inspirou inicialmente na obra “A Boa Alma de Setzuan” de Brecht, conta com  Júlio Cardoso, Sandra Salomé, Guilherme Filipe, Paula Guedes, Miguel Branca, Kátia Guedes, Jaime Monsanto, Luciana Sanhudo, Teresa Fonseca e Costa, Fernando André,  Vítor M. Pereira, Mafalda Covas e Mariana Costa e Silva no elenco.

Segundo o autor, Castro Guedes “é um espetáculo bem-humorado, por mais cruel que seja o tema. Porque para nos ‘educarmos cívica e eticamente não temos, necessariamente de ser ‘carrancudos’ ou estar em conflito bilioso com o Mundo. Muito menos num momento tão especial como o de que saímos cansados com as limitações a que a covid nos impôs e os perigos de uma efetiva derrapagem económica (europeia, quiçá mundial) nos ameaça. 

Precisamos de um teatro ‘gentil’. Mesmo que não se dispense, nem se ausente do real mais duro em que estamos inseridos. Mas que nos desperte compreensão, compaixão e vontade de mudar.”

“Bairro Noite e Dia ou de como Maria José ser Boa Alma não podia” vai estar em cena na Sala Estúdio Perpétuo, a nova residência da Seiva Trupe, de 7 a 31 de outubro, sextas-feiras, sábados e domingos às 19 horas; e segundas-feiras às 21h30. Os bilhetes terão o custo de 10 euros. 

Bilhetes à venda em www.bol.pt

Informações ou reservas através do e-mail info.reservas.st@gmail.com

Texto e fotos: Seiva Trupe

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

“BAIRRO NOITE E DIA” Sala Estúdio Perpétuo - PORTO - De 7 a 31 de Outubro

SEIVA TRUPE - TEATRO VIVO

 nosso propósito:a arte.

nosso desígnio:público.



Estes são os 13 intérpretes que se integram num conjunto dos 37 elementos diretamente ligados a esta criação/produção. O texto e encenação são de Castro Guedes, o cenário e vídeo de Acácio Carvalho, os figurinos de Lola Sousa, o desenho de luz de Júlio Filipe.

Uma modesta costureira de um dos bairros ditos "problemáticos" nas zonas suburbanas das grandes cidades ganha um Jackpot do Totoloto. De nome Maria José, queria ser uma Boa Alma mas não não podia e fez, como na peça de Brecht (“A Boa Alma de Setzun), algo de parecido com Chen-Té e o primo Chui-Tá, desaparece e no seu lugar surge um prestamista de nome José Maria, depois de 1/3 do dinheiro lhe ter sido autenticamente espoliado pelos vizinhos. E é neste cenário, que a partir daqui nada ou muitíssimo pouco tem a ver com a obra e a matriz brechtianas, que se apresenta o “BAIRRO NOITE E DIA”, em que todas as personagens, para sobreviverem entre a miséria e a cupidez são de dia umas e à noite outras. Uma espécie de avatares, mas no real e não no digital, para fazer frente às dificuldades da vida e não para a infantilidade de adultos no faz-de-conta das redes sociais.

Duro, cruel mesmo, até na linguagem, BAIRRO NOITE E DIA, apesar destas características não se apresenta como um drama, mas antes como uma comédia (mesmo de rir nos equívocos de situações e diálogos) irónica e algo delirante. Depois, à maneira de como sugere Rudolph Laban, que cada um se veja ao espelho, como numa feira, diremos nós, na imagem distorcida, numa tenda de diversões: o teatro, um teatro ‘exquisito’.

RECUPERANDO E CONQUISTANDO MAIS PÚBLICO DO PORTO.

Depois de quase 9 anos sem sala própria de residência, desde 27 de Março aqui instalada, a SeivaTrupe-TeatroVivo abre portas ao público com uma produção de dimensão já pouco habitual, na Sala Estúdio Perpétuo*,  Rua Costa Cabral, 128, Porto.
De 7 a 31 de Outubro às Sextas, Sábados e Domingos às 19:00, às Segundas às 21:30. Informações e Reservas: info.reservas.st@gmail. com ou tel. 91.351.84.01 (de Segunda a Sexta das 10:00 às 17:00, até à véspera do dia escolhido).

nosso propósito:a arte.
nosso desígnio:público.

 

Texto e fotos: Seiva Trupe

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

COMÉDIA SOBRE ASSUNTOS MUITO SÉRIOS...


UMA COMÉDIA SOBRE ASSUNTOS MUITO SÉRIOS... Uma costureira a quem sai o Totoloto num Bairro dito problemático torna-se presa dos vizinhos predadores e tem de arranjar um esquema para passar a ser a caçadora, num Mundo em que ninguém está isento de responsabilidades por ser o que e quem é... um texto que parte da “A Boa Alma de Setzuan” de Bertolt Brecht. Hilariante para dar que pensar depois. 7 a 31 de Outubro de 2022 info.reservas.st@gmail.com ou telefone 913.414.050 Sala Estúdio Perpétuo. Rua de Costa Cabral 128, Porto.

Imagem e texto Seiva Trupe

 

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

COMEÇOU A FUNDO A PRÉ-TEMPORADA DE SEIVA TRUPE-TEATROVIVO

Na foto Júlio Cardoso, Guilherme Filipe, Miguel Branca, Vítor M. Sousa, Paula Guedes, Sandra Salomé, Kátia Guedes, Luciana Sanhudo, Teresa Fonseca e Costa, Jorge Castro Guedes e Fernando André. Estreia a 7 de Outubro.

  começaram os ensaios da próxima criação da SeivaTrupe-TeatroVivo: 

“BAIRRO NOITE&DIA ou de como Maria José ser boa alma não podia”, um texto, cujo autor e encenador (Castro Guedes) parte da “A Boa Alma de Setzuan” de Brecht, cada vez mais se afastando dela do ponto de vista da perpectiva ideológica, remetendo-a para o comportamento humano em gera. Ora num olhar crítico e por vezes cruel, ora movido por uma compaixão intrínseca. Com um elenco ‘de luxo’, 19 personagens criam-nos um mosaico de acontecimentos, como um espelho uns dos outros e de nós todos com eles. De forma muito resumida e sem tudo revelar, a obra começa na altura em que uma costureira de um Bairro, dos ditos ‘problemáticos’, se vê com o ganho do Jackpot do Totoloto na mão e a ilusão de poder fazer o bem a todos, que logo dela se aproveitam…

Para estrear dentro de menos de dois meses, num horário inabitual (Sextas, Sábados e Domingos às 19:00 e Segundas às 21:30) na Sala Estúdio Perpétuo (Rua de Costa Cabral, 128), a nova residência permanente da SeivaTrupe-TeatroVivo, “BAIRRO NOITE&DIA” tem cenário e vídeo de Acácio de Carvalho e Figurinos de Lola Sousa. O desenho de luz é de Júlio Filipe e a banda sonora de Pedro Pires, a criação musical é da Teresa Fonseca e Costa.

Foto e texto SeivaTrupe-TeatroVivo

terça-feira, 23 de agosto de 2022

A VIDA DA CARRIÇA, CONTADA POR ELA

CARRIÇA - I

A Nova Vida da Carriça – Contada Pelos Novos Donos 

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Como foi dito, esta é a versão dos novos donos da Carriça…

Acontece que a minha curiosidade, como adolescente, e a intimidade que tinha com a Carriça me levou a interrogá-la sobre o seu passado

Confessou-me que não tinha boas recordações. Nunca experimentou a felicidade das suas companheiras. Nunca conhecera o pai. Soube pela mãe que era um «Senhor» da mais pura raça, com fama e prestígio sem igual e disputado pelas melhores cutelarias.

- «Com a minha mãe nunca houve intimidade e poucos meses privei com ela uma vez que não demoram a separar os potros das mães. Vi que emprenhou e se até aí a me olhava com mal disfarçada indiferença, com o nascimento do seu irmão foi claro o total abandono a que me votou.»

 Não me alongo mais. Nada melhor que saber o que a própria Carriça tem para nos revelar:

CARRIÇA - II 

As Minhas Origens e o Meu Destino – Contados Pela Própria

Olá avô fui eu que corrigi a tua história e depois a mamã ajudou-me, está muito bonita.

Beijinhos Rosinha. 

Dedico esta fábula à minha neta mais nova, Maria Rosa, com 11 anos.

CARRISSA - II

As Minhas Origens e o Meu Destino – Contados Pela Própria

«O curral em que nascemos marca o nosso destino.»

Valeu-me nascer forte e determinada a fazer pela vida. Avantajada que sou a minha mãe viu-se aflita para me por cá fora. Não teve nenhuma ajuda.

A minha primeira sensação foi sentir a minha a mãe a lamber-me e também o roçar das mamas pelas minhas orelhas, mas eu não atinava com elas para mamar. Batia com o focinho nas cochas dela, procurava levantar-me, como tinha as pernas muito compridas  e a cabeça grande e pesada, tropeçava e caia. A minha mãe observava-me, mas com indiferença, estava exausta e não deve ter gostado muito do que viu… Passava com as patas por cima de mim sem me dar qualquer ajuda.

Altas horas da noite lá apareceu o cavalariço: - Olha que feioso! E não perdeu tempo, virou costas desapontado e a falar sozinho: - O patrão vai-te dizer… Um primeiro cumprimento muito estimulante.

Não demorou a surgir um sujeito, logo seguido do cavalariço de braço bem esticado segurando o candeeiro a petróleo à frete do patrão.

Também não ficou agradado, mas foi à minha mãe que deu os “parabéns”: - Hoo rapariga! Que manjerico desajeitado me foste arranjar!      

 Vasculharam tudo com o candeeiro, sem olhos que vissem não haver sequer palha seca no chão, só estrume gelado e escorregadio o que me impedia de levantar as patas dianteiras para alcançar as mamas da minha mãe. Não via forma de mamar e precisava aquecer e de caminhar.

Lá foram aparecendo outos mirones, todos a torcer o nariz. Fiz por não prestar atenção, mas não conseguia. Que culpa tinha eu de esperarem por uma estrela!? E de verem em mim um emplastro!? E não se calavam. Em lugar de me ajudarem só sentia ferroadas: - Uma lesma!  - Não se dá ao trabalho de mamar! A minha mãe parecia indiferente, mas abanava a cabeça para ambos os lados, não resmungava, mas fungava. Também não gostava do que ouvia; mas será que degenerei?

Finalmente apareceu quem fez a diferença: - «Sai ao pai! É forte e bem grande, vai-se desenrascar». Só aquilo já me deu ânimo. Desprezei os sete olhos mortíferos enterrados em mim e lá endireitei as dianteiras, num esforço gigante fiz o mesmo com as traseiras, toda a tremer, abocanho uma mama e só a largo quando fiquei consolada.

Ainda não tinha um ano quando me separaram da minha mãe. Guinchei, relinchei, escoicinhei para todos os lados, bati com a cabeça contra as grades o que me valeu os piores insultos do cavalariço. Convidou-me com um banho de chicotada que me deixaram os lombos a arder. Mais furiosa fiquei, mas tive que aguentar.

Se até nos separarem a minha mãe já me tratava com mal disfarçada indiferença, a partir desse momento foi claro o abandono a que me votou.

Ensimesmei, entristeci, fingi que não ligava, mas nunca deixei de a procurar no pasto com o olhar.

Vi que ficou grávida. Quando o meu irmão nasceu e começou a pastar com ela, dava nas vistas, um latagão garboso, farejado por doidivanas bastante mais velhas que ele.

Desconfiei que a minha mãe tinha ciúmes do meu irmão, redobrou as mesuras com ele para afastar os pretendentes.

Para mim sobravam toda a espécie de humilhações. Sofri para prazer dos outros. Só me destinavam trabalho mais trabalho, sem liberdade, sem tempo de recreio e sem a independência de que os outros gozavam.

Fechei-me em mil conjeturas, magoada, pensativa, infeliz.

Para vencer o infortúnio que me dominava deixei-me arrastar para uns namoricos. Foi sol de pouca dura e senti-me ainda pior, não tinham coração, ou tinham, mas despedaçado. Só conheciam a sua própria dor.

Reparei que os humanos não eram melhores em nada. Governavam-se com palavras, enquanto nós vivemos das ações.

Pior ainda é quando são uns mentirosos e maus. Desencadeiam guerras horrorosas, ateiam fogos criminosos, odeiam-se uns aos outros e consideram-se racionais.

Nós somos, os irracionais, não cometemos crimes, não temos entre nós assassinos, não sabemos o que é odiar nem mentir.

Logo que me vi neste novo mundo o que eu passei para me por de pé para mamar! Mas sem qualquer ajuda levantei-me e comecei a andar.

Os ditos racionais levam um ano para se porem de pé e só com muitas ajudas dei os primeiros passos!

Afinal, em que são superiores? Onde está o mérito? Quem é mais útil?  O que mais vale, são as palavras ou as ações?

Comprazia-me, assim, encher o balão do meu «EU». Crescia em mim um desdém pelos outros o que não motivava simpatias, muito pelo contrário.

Sentia-me revoltada com tudo e com todos. Pensativa, procurava respostas e forças para varrer do meu íntimo uma crescente animosidade, uma tendência para julgar os outros, o prazer de condenar, a arrogância de querer mudar o mundo….

A realidade é que não podia ter a pretensão de mudar os outros para mudar o mundo, mas podia, muito bem, mudar as minhas reações e o meu olhar para com os outros. Como? Amá-los tal como eles são, como gostaria que me amassem a mim. Amar o mundo tal como ele é!

Se todos assim fizerem teremos um Mundo Melhor.

Resumindo, tinha de começar por varrer do meu íntimo toda a animosidade em lugar de a cultivar, bem como tudo o resto que me envenena a existência.

Eu já nem podia olhar para a minha mãe e para o meu irmão!

Tinha assim que moderar as minhas reações e a forma de enfrentar os problemas. Mais, posso tirar partido de todo o sofrimento que me fortalece o coração para o abrir aos outros, em lugar de me vitimizar.

Sentia começar a ver claro. Precisava mudar de vida, ouvir a vós imperiosa do meu interior, assumir o trabalho do peregrino e descer ao mais íntimo do meu ser, descobrir o amor. Ir ao encontro do infinito e da Fé.

Neste combate o destino levou-me de coração renovado ao ceio de uma família que me fez muito feliz, onde virei a página e esqueci tudo quanto me torturava».

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Não interrompi a Carriça para não a desviar do seu pensamento verdadeiramente inspirador. Uma lição que me deu o sentido da vida. 

Por ironia do destino foi no coração desta família que a Carriça travou o seu último combate.

O trabalhador que a recolheu no palheiro das Olgas, prendeu-a à manjedoura com a corda que levava ao pescoço. Como não era costume ficar presa, para se libertar enrodilhou a corda ao pescoço com tamanha violência que se estrangulou.

Este drama da Carriça continua vivo no coração de toda a família. 

«E isto deve lembrar-nos que existe uma divindade que talha os nossos destinos, seja qual for a maneira porque nós os delineemos» (Hamlet a Horácio). William Shakespeare.