O HOMEM DO ANO 2010
Conheci o Júlio Cardoso (Júlinho) e com ele convivi ao longo de toda a década dos anos cinquenta do século passado.
Nos anos sessenta vim para Lisboa, onde consegui o meu primeiro emprego e por cá fiquei até hoje.
Nunca perdemos o contacto e, embora à distância, acompanhei sempre, com grande orgulho, uma carreira de um verdadeiro autodidacta, feita a pulso, que nunca soube ser passivo, que nunca se resignou e como poucos soube explorar os seus dons, soube fazer-se, soube ter um papel decisivo na sua formação.
Sofreu na sua juventude.
Desde a sua infância, acompanhou sempre o sofrimento de sua mãe com aquele amor humano de quem sofre com os que sofrem, a recordar Dostoiewsky: «O sofrimento acompanha sempre uma inteligência elevada e um coração profundo».
Em termos profissionais ocorre-me um paradigma que caracteriza e define, quanto a mim, o verdadeiro artista:
Há alguns anos aguardava, no Fórum Lisboa, juntamente com uma dezena de presenças, a chegada do artista, para assistir a um breve concerto.
Qual não é o meu espanto quando, ao ver o “artista” assomar a uma das portas e ao deparar com o reduzido número de presenças, em lugar de se dirigir ao lugar destinado à sua actuação, colocou a guitarra ao ombro e saiu porta fora, sem qualquer explicação.
Naquele mesmo espaço, com semelhante número de espectadores, tive o prazer de ouvir Carlos Mendes.
Estou certo de que Júlio Cardoso, com um único espectador na sala não deixaria de lhe proporcionar o espectáculo.
Júlio Cardoso ousou destacar-se da alma colectiva na procura do humano, lutou, sofreu e venceu.
É, desde já, para mim e para todos os amigos que lhe conheço:
O HOMEM DO ANO 2010.